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Noites Cariocas Solo de Cavaquinho

Hoje em nosso programa “Não está no gibi”, vamos falar de um dos maiores mestres da música brasileira que é Jacob do Bandolim, com a sua música “Noites cariocas”. Meu nome é Marcos Duprá, professor e editor de cursos de música da Primeiros Acordes, eu vou tocar a canção aqui pra vocês, e depois vamos falar um pouquinho sobre a história da canção e a cultura que está por trás dessa música.

Jacob Pick Bittencourt nasceu em 1918 e morreu 1969, era filho de pai capixaba e mãe judia. A mãe de Jacob do Bandolim era uma judia polonesa. Ela era uma polaca, que era um termo pejorativo usado no Rio de Janeiro para definir as prostitutas que vinham da Polônia ou do Leste Europeu. No começo do século XX existia uma Máfia Judaica que traficava mulheres do leste europeu para o Rio de Janeiro e Buenos Aires, com a promessa de casamento, quando as mulheres chegavam eram obrigadas a se prostituir para pagar a dívida. Isso ocorreu com a mãe de Jacob do Bandolim.

 

Jacob do Bandolim era autodidata, ou seja ele nunca teve aulas de música, o que demonstra o seu dom musical. Ele começou tocando violino mas não se adaptou com o arco e acabou aprendendo a tocar bandolim pois tinham a mesma afinação e vejam só o monstro sagrado que nasceu para a música brasileira. O Bandolim é um instrumento presente na música regional de muitos países do mundo, desde a Europa, Estados Unidos e até mesmo nos países arábes.

No começo da sua carreira, Jacob do Bandolim não vivia de música, ele era funcionário público, aliás essa é a história de muitos dos grandes músicos de chorinho, muitos desses músicos eram funcionários públicos e se reuniam depois do trabalho, em rodas de chorões para tocar os choros e de se aprimorar.

Jacob é muito conhecido principalmente no final dos anos 50 começo dos anos 60, quando funda o grupo Época de Ouro, onde ele toca com feras como Dino 7 cordas, Canhoto do Cavaquinho, as grandes gravações dele seriam de 1964 diante, aliás todas as gravações do Jacob são maravilhosas, ele tem gravações desde os anos 40, mas aqui ocorre o auge de sua carreira musical. Vale muito a pena ouvir uma gravação ao vivo, que virou disco, que ele faz com Elizeth Cardoso, ele estava com o demônio no corpo, ouça a música Barracão de Zinco, o seu improviso no meio da canção é um absurdo de belo, e faz o público aplaudir de pé.

Jacob morreu muito novo, ele teve um ataque cardíaco e morreu nos braços da mulher. O seu filho, Sérgio Bittencourt, que também morreu novo, fez a canção “Naquela Mesa”, um grande sucesso dos anos 70, em homenagem ao pai. “Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim.”

O Chorinho é um estilo musical que não tem ritmo próprio, ele se apropria de diversos ritmos. Portanto você vai encontrar chorinhos com ritmos de Tango, Maxixe, samba-canção, etc. A formação básica de um grupo de Choro, também chamado de Regional, seria para a melodia: a flauta, ou o cavaco, ou bandolim, ou mesmo os 3 juntos, e para o acompanhamento: um violão de sete cordas, um violão, um cavaquinho e um pandeiro.

A forma básica do Chorinho seria o Rondó, que é dividido em 3 partes: A, B e C. A partir do século XX, começou-se a compor Chorinhos apenas com 2 partes, parte A e B, mas com mais compassos, como por exemplo 32 compassos. Esse é o caso de Noites Cariocas.

Qualquer partitura de Noites Cariocas tocada ao pé da letra, terá muitas semicolcheias, mas o diferencial do Jacob é que ele toca a canção de maneira sincopada, o que cria uma intepretação pessoal. O instrumento do Jacob era o bandolim, que é um instrumento de 8 cordas e tem uma ressonância muito forte, diferente do cavaquinho que é mais seco. A sua afinação é a mesma do violino. Outra característica no acompanhamento do Chorinho é o recurso do contraponto, usado desde Bach.

Na canção o violão de sete cordas toca uma repetição da melodia principal, criando a sensação de uma conversa entre os instrumentos.

DICAS DE LIVROS E FILMES

Noites Cariocas foi gravada em 1957, justamente na época que começa a construção de Brasília, e a mudança da capital do Rio de janeiro para Brasília. Noites Cariocas é quase uma nostalgia de um Rio de Janeiro que deixará de ser a capital do país e o seu centro urbano mais importante. É quase uma resistência à mudança, que aliás tem muito a ver com a biografia musical do Jacob. Quando ele montou o grupo Época de Ouro, montou em forma de resistência as transformações que estava sofrendo a música brasileira com o advento da bossa novo e da jovem guarda.

Vou recomendar um filme chamado “Sonhos tropicais” que retrata a história de uma polaca, uma mulher que foi enganada com uma promessa de casamento no Brasil e que ao chegar é obrigada a se tornar uma prostituta, ao mesmo tempo, o enredo conta a saga de Oswaldo Cruz e a sua luta pelo saneamento básico da cidade e todos os traumas que isso acarreta, como por exemplo a Revolta da Vacina.

Outra sugestão de filme é “Brasileirinho” que conta com as participações e os diálogos musicais de caras como: Yamandú Costa, Paulo Moura, Madeira Brasil, Tereza Cristina, entre outros. O filme mostra as rodas de chorões, e os clubes de choro que existem no Brasil, e essa coisa que é passada de pai para filho, de uma geração para a outra. O filme é bem legal mas é para quem já tem conhecimento do universo do choro, deixa a desejar na parte histórica, não é muito didático, então é um filme voltado para realmente quem gosta de música.

Um livro que recomendo é “Almanaque do choro: a história do chorinho, o que ouvir, o que ler onde curtir” é um livro bem bacana que conta a história do choro, quais discos você deve ouvir e onde tem clubes Choro, aliás tem Clubes de Choros espalhados por todo o Brasil, vale muito a pena para quem está começando nesse universo.

Outro livro que eu recomendo, que foi produzido por mim, é Chorinho sem Lágrimas, um songbook com as tablaturas de 20 canções para cavaquinho e violão 7 cordas, além do áudio com o acompanhamento para você poder tocar junto. SAIBA MAIS

Fica aqui uma constatação muito triste, diferentemente dos Estados Unidos, por exemplo, onde seus grandes músicos tem filmes e livros com muitas biografias, no Brasil se tem uma dificuldade enorme de encontrar material biográfico, seja um documentário, seja um filme, seja mesmo um livro. Fica aqui a dica para os escritores, para os cineastas um Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo, um Pixinguinha, tem histórias humanas de superação maravilhosas, e mesmo assim se tem muita dificuldade de encontrar material histórico dessas pessoas que influenciaram a arte brasileira de uma maneira tão importante. Temos uma tendência a politização em nossos filmes e gravamos filmes com biografias como “Lamarca” ou “Marighela” que poucas pessoas influenciaram, e uma biografia de um Jacob do Bandolim com tantos aspectos humanos maravilhosos e que influenciou e influencia tanta gente é desprezada.

DICAS DE VIAGEM

O Rio de Janeiro passou por duas transformações traumáticas no século 20, a primeira transformação urbanística da cidade acontece no começo do século XX e teve muitos conventos históricos e igrejas destruídas porque na cabeça dos arquitetos da época a moda era a arquitetura francesa e o barroco representava o atraso. Muitos prédios e avenidas são construídos segundo a arquitetura francesa. Depois nos anos 60/70, vem os arquitetos modernistas e que acham que toda a arquitetura com influência francesa deve ser substituída por uma arquitetura moderna, e novamente uma série de destruição e uma nova organização da cidade, nunca se pensando no patrimônio histórico, nunca se pensando nas pessoas.

Um exemplo clássico da arquitetura francesa do final do século 19 e começo do século 20, que ainda existe, é a Confeitaria Colombo, ela foi criada em 1894 e vale a pena ir lá tomar um cafezinho e comer um pão de queijo.

Outra dica é o bairro da Lapa, que é o reduto da boêmia carioca, um bar bem recomendado é o Carioca da Gema, onde você vai ouvir Chorinho e Samba de muita qualidade. Outra sugestão é o samba do trabalhador que ocorre no Andaraí todas as segundas feiras com grandes nomes do samba. Aliás, no Rio de janeiro não vai faltar opção de samba gratuito para você assistir, basta se informar com qualquer carioca que ele já te indica.

RECEITA DE FILÉ À OSWALDO ARANHA

Nossa dica de culinária fica com uma receita do filé à Oswaldo Aranha, esse prato foi criado na Confeitaria Colombo a pedido de um político do começo do século 20, chamado Oswaldo Aranha e é uma delícia.

Ingredientes para o filé

4 medalhões de filé mignon (de 200 a 250 g cada)

4 colheres (sopa) de manteiga sem sal

12 dentes de alho cortados em lâminas finas

4 colheres (sopa) de azeite de oliva Sal e pimenta-do-reino

 

Ingredientes da farofa de ovos

1 colheres (sopa) de manteiga sem sal

2 colheres (sopa) de bacon picado em cubos pequenos

1 cebola picada em cubos pequenos

1 xícara de farinha de mandioca crua

3 ovos misturados

Salsa e cebolinha picadas a gosto

Sal e pimenta-do-reino

 

Ingredientes para as batatas portuguesas

2 batatas grandes cortadas em rodelas de finas

Sal e pimenta-do-reino

Óleo para fritar

 

Modo de preparo do filé

Tempere os medalhões com sal e pimenta-do-reino a gosto. Passe um fio de azeite pelos filés e espalhe bem para ajudar na selagem da carne e para manter sua suculência. Aqueça uma frigideira, de preferência antiaderente, adicione o azeite e frite as lâminas de alho até que estejam bem douradas. Retire o alho da frigideira e reserve. Adicione a manteiga e deixe derreter. Adicione os medalhões e sele todos os lados para que a umidade não saia da carne. O ideal é selar de 3 a 5 minutos cada lado dependendo do ponto que se deseja para a carne. Reserve os medalhões e cubra com o alho dourado.

 

Modo de preparo da farofa de ovos

Em uma panela aqueça a manteiga e ponha os cubos de bacon e cebola, deixe refogar até que elas estejam quase transparentes, nesse momento inclua os ovos, tempere com sal e pimenta, e cozinhe até ficar com textura de ovos mexidos. Adicione a farinha de mandioca crua e misture bem. Corrija o sal e a pimenta, se necessário, finalize com a salsa e cebolinha após desligar o fogo.

 

Modo de preparo das batatas portuguesas

Aqueça o óleo em uma frigideira e, quando bem aquecido, frite as rodelas de batata até dourarem. Retire e deixe secar em papel toalha. Tempere com sal e pimenta a gosto.